domingo, 5 de novembro de 2023

Reativando as coisas...

Faz um tempão que não passava mais por aqui, esses dias em uma roda de amigos lembrei o quanto escrever me fazia bem e o quanto o blog pode proporcionar para outras pessoas uma "afinidade maior" com a Esclerose. 

Recapitulando, se você está chegando agora, meu nome é Neto, tenho Esclerose Múltipla faz 14 anos e hoje sou pessoa com Deficiência devido as sequelas causadas pela doença. Acredito que reativar as postagens do blog vai ser mais uma terapia pra mim, do que algo informativo, pretendo escrever pensamentos e situações das quais eu vivo diariamente.

Ontem mesmo, fui a uma festa aqui na cidade (Presidente Prudente), na realidade lá é um bar com agendas variadas, até aí ok. Geralmente antes de ir em algum lugar eu sempre me dou o trabalho de checar a acessibilidade do local, o que já começa errado, pois todos os lugares deveriam oferecer acessos, mããs quando se trata de inclusão, só uma pessoa défi ou alguém que convive com alguém que é sabe do que estou falando, enfim, o local tem a acessibilidade básica, rampas e tudo mais, porém quando a gente fala de incluir devemos observar três pontos, o acesso, a permanência e a participação.

A princípio eu desci de cadeira de rodas, o que já me incomoda, mas não pelo fato de estar em uma, mas por ser na maioria das vezes o único com deficiência que esta no local (falar a verdade pra vocês, é trampo ultrapassar as barreiras atitudinais e físicas, muitas vezes fico exausto e acabo me dando por vencido por tudo e todas as coisas que acabo presenciando).

O pessoal (equipe) estava esperando que eu fosse, como eu disse havia perguntado como eram os acessos, então nesse quesito e pela atenção de todos do estabelecimento o meu muito obrigado, mas não um obrigado como o de um favor, pois é o mínimo, mas um obrigado pela atenção e carinho.

Quando a gente fala de lugares preferenciais o que muita gente vê como mordomia eu vejo como necessidade e posso provar.. 

Essa era a vista que eu tinha de todo o rolê da minha cadeira de rodas (bundas e pernas)


A princípio o sentimento foi de revolta, mas aí percebi que ia mais além, não era culpa das pessoas e nem do espaço, mas sim a sensação de impotência, a sensação de não ser ouvido, de não ser visto e tudo isso acumulou com todas as outras das quais eu já vivenciei. 

No meu caso eu uso cadeira de rodas para longas distância e bengalas canadenses no dia a dia, mas nessa situação, como ficariam as pessoas que não andam, quais seriam as possíveis soluções pra elas?

Sou privilegiado de amigos e pessoas que estão sempre comigo, então logo guardamos a cadeira e com a ajuda deles pudemos andar de bengalas e encontrar um lugar mais confortável.

Imagina uma pessoa em cadeira de rodas aí 😐

Por fim, todo o rolê acabou se transformando no próprio rolê, conseguimos ficar em um lugar mais confortável, porém o acesso a ele tinha uma escada, o que facilitou foi que no mesmo ambiente tinha um banheiro, então não precisei subir e descer várias vezes.

 No fim deu tudo certo, aconteceram várias coisas, aproveitei e até dei um pouco 🤏🏻 de trabalho 🤦🏻‍♂️(☝🏻🍺👀) mas foi bom.

Seguem algumas fotinhas 





Pode parecer bobeira, mas ter que enfrentar todos os dias olhares capacitistas, espaços e pessoas não inclusivas cansa demais (chega doer), por isso agradeço do fundo do coração os meus amigos e a minha família, que nunca mediram esforços para estar comigo e me ajudar.

Pra concluir esse poste vou deixar um questionamento, você já se imaginou sem autonomia e independência?

Pois bem, o pouco que eu tenho significa tanto e ao mesmo tempo é tão pouco, que é difícil não sentir um sentimento parecido com o de estorvo, muitas vezes já me vi como uma coisa, ou como um objeto a mercê de alguém.

(Essa perspectiva não é comum, mas acontece e a sensação é horrível)

Então se algum dia você passar por isso, vai se lembrar dessa conversa e com certeza fará mais sentido tudo que eu falei aqui.

Obrigado pela visita e boa semana!