quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Incertezas

 Hello peoples, tudo certo com vcs?

Por aqui tudo fluindo na medida do possível, mas confesso pra vocês, algumas coisas poderiam estar melhores, maass.. não cabe a mim, consequentemente então, a vida segue.


Tenho pensado com mais carinho aqui no blog, no que escrever e quando falar, então a maioria dos textos eu escrevo baseado no meu estado emocional do momento. Hoje vou escrever sobre aceitação, um tema tanto quanto complexo visto à forma como eu enxergo e lido com isso.

Obvio que quando falo sobre aceitar algo, no meu caso decai sobre a minha condição, tenho pensado bastante em como a Esclerose Múltipla me influencia, como se já não bastasse todas as coisas externas. Pra você entender, minha deficiência não é congênita (não nasci), sou pessoa com deficiência devido às sequelas que a doença me causou e ainda causa, por se tratar de uma doença crônica, degenerativa que afeta o sistema nervoso central, a esclerose múltipla (NO MEU CASO), tira de mim todos os dias um pouquinho de alguma habilidade que eu tenho. Atualmente estou no período da perda de coordenação motora fina e sensibilidade, mesmo sem estar em surto).

Agora imagina a minha cabeça com relação a isso?


Como você acha que é lidar com o incerto, com o medo do amanha ou de como serão nos próximos anos?

Você não sabe, né? Pois bem, eu também não e ainda tenho a esclerose e a deficiência pra ministrar essa dúvida (entende a diferença?)

E não vem com essa falando que o amanhã é incerto pra todos e que Deus escreve certo por linhas tornas, e pererê, piriri, que isso tudo é positividade toxica. Sem brincadeira, já ouvi pessoas falando pra minha mãe que o cabelo cresce e que estava tudo bem isso acontecer durante a quimio... Ah! Faça-me o favor, né, não seja esse tipo de pessoa.

Pois bem, agora eu falo diretamente pra você que tem algum tipo de deficiência ou alguma doença que afeta o seu conforto, cada um de nós tem o próprio processo, tanto de aceitação quanto de entendimento, não se preocupe com o ritmo, mas com a direção.

"Nesse momento, estou escrevendo esse post só com a mão direita, enquanto a minha outra mão esta sobre a mesa sem eu conseguir movimentar, alguns anos atrás eu fazia tudo com as duas mãos e agora ela esta aqui, fraca, xoxa e capenga. É sério, me incomoda demais isso e se eu fizer piada sobre, é porque eu te considero demais! (Valorize)


Pra concluir, estar no processo é milhões de vezes melhor do que estar parado, se remoendo e chorando, mas leia-se bem, não disse que chorar é um problema, pelo contrario, chorar é maravilhoso, mas se o alivio não vier após o choro você com certeza precisará de ajuda e esta tudo bem.

 

"Oh meu fio, o mundo só é ruim, pra quem não sabe viver!"
Dona Ozeiá

 

















Feliz Crescimento

Boas festas, feliz natal e próspero ano novo!
Até 2024


terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Ser por inteiro

Martins ao fundo (ciumento), 
Peta no meu colo

Com o tempo e por causa da deficiência desenvolvi a habilidade de perceber os gestos e os olhares das pessoas. Pode parecer bobeira, mas não é, consigo perfeitamente identificar nos outros a essência e a intenção de cada um, as vezes pode demorar um pouco ou até mesmo eu custe a aceitar, mas nunca falha.

Ser pessoa com deficiência me proporciona vivenciar relações humanas mais intensamente, vos digo que poderia destrinchar inúmeras situações, mas hoje vou falar da forma como eu vejo a gratidão. Quem me conhece sabe, tenho muita facilidade em fazer novas amizades, me dou o trabalho de alimentar novas relações mesmo que passageiras, costumo entrar e sair da vida das pessoas pela “porta da frente” (existem variáveis não nego). Mas quando trago a palavra gratidão, carrego junto com ela a obrigação de ser, quando na verdade ninguém é obrigado, principalmente eu. (Agradecer não funciona assim, custei pra aprender isso)

Desde a descoberta da EM (Esclerose Múltipla) já passei por quatro tipos de tratamento e de todos o ultimo foi o que mais mexeu comigo, só pra resumir, após ter ficado internado cinco dias recebendo uma medicação extremamente forte, precisei voltar para o hospital. Eu estava com meningite, lembro-me dos médicos usarem a expressão: “doença oportunista”, visto que a medicação havia alterado todo meu sistema imunológico, como se já não bastasse todos os efeitos colaterais da medicação e das doses cavalares de corticoide, mal sabia eu que durante o mês que se passará no hospital seria tão violento. 

Fiquei totalmente dependente das pessoas, e quando digo dependente quero dizer que não tive forças para absolutamente NADA, por vários dias me deram banho, me limparam e me deram comida, eu simplesmente estava lá, a mercê de quem cuidou de mim. Durante esse período pude perceber o amor incondicional da minha família que não abdicaram um dia se quer da vida deles para ficar comigo. (Obrigado, eu amo vocês!) 

Foi nesse período que desenvolvi a habilidade de perceber os olhares, os gestos e os toques das pessoas por mim. Pelo olhar, consigo reconhecer a dó, a empatia ou a indiferença. Pelos gestos, consigo reconhecer o amor e a consideração (ou a falta dela) e pelos toques, consigo reconhecer o carinho, o zelo, o incomodo (nojo) e a obrigação de ter que fazer.

Nunca esqueço, uma vez eu e minha mãe havíamos ido viajar, eu estava na cadeira de rodas e meu chinelo escapou do pé, lembro como se fosse hoje, ela se ajoelhou diante de mim, com a maior calma do mundo pegou meu chinelo, apoiou meu pé sobre as mãos e me calçou. (Tudo isso embaixo do sol)

Olhei toda a cena como se eu não estivesse fazendo parte dela e observei o amor com que ela fez tudo isso, foi como se o tempo tivesse parado naquele momento e quando dei por mim estava com os olhos carregados olhando para ela, e ainda no chão ela olhou pra mim, sem ao menos precisar explicar o meu sentimento naquela hora, ela me olhou, sorriu e disse:

- Eu faria isso o dia todo se precisasse. 

Puxei o ar e com um nó na garganta respondi com a voz embargada no choro:

- Eu sei, meu amor. 

Ser Pessoa com Deficiência é lidar com um turbilhão de sentimentos.

Sim, eu tenho autonomia para atividades da vida diária, eu consigo fazer as coisas, mas não nego que toda ajuda é bem vinda.

(Calma, acho que a palavra não é essa, vou reformular...)

Ser Pessoa com Deficiência é lidar com um turbilhão de sentimentos.

Sim, eu tenho autonomia para atividades da vida diária, eu consigo fazer as coisas, no meu tempo, MAS NÃO NEGO QUE COM AMOR AS COISAS FICAM MUITO MELHORES.

Como eu sempre digo, que seja de inteiros e não de metades. (Essa frase inspirada na saudosa e eterna Clarice, como ela mesma disse, algumas pessoas nunca morrem)


Obs: Se você esta acompanhando as postagens, me da um feedback, please..


Pena que o nosso tempo,
não é o tempo que queremos

Mas é o tempo necessário,
do tempo que estamos precisando.
                       Salvador Neto