segunda-feira, 25 de abril de 2016

Onde tudo começa/começouv







Hoje minha postagem será dedicada exclusivamente a um ente querido da minha família. Meu padrinho e avô, Salvador.
Em uma visita rotineira da qual tento fazer fielmente todos os dias aos meus avôs, sempre acabo presenciando cenas das quais fico muito comovido, por inúmeras vezes hoje desviei o olhar dos olhos do meu vô para não chorar. Sentado na área estávamos conversando de tudo um pouco, há quem diga que falar sobre o clima é dialogo comum entre os velhos, mas em verdade vos digo, já comecei muita conversa assim com pessoas novas e digo mais, quem é carente de uma companhia fala sobre qualquer coisa.
Meu avô tem 85 anos, é uma pessoa maravilhosa, me ensinou e ainda me ensina muito, nos gestos, na forma de conversar e nos olhares. Hoje durante a tarde perguntei como ele estava e com um fundo suspiro respondeu:
- “Ieu” não tô bom. Ao dizer isso, ele fez forças para levantar da cadeira de área e não conseguiu, e com a toalhinha que estava em seu ombro esquerdo passou em seus lábios.
Fingi que não notei sua barriga molhada e sua boca aberta (sua boca estava salivando sem controle) continuamos conversando...
´Vó, pai, Vô e mãe
-Tô sem forças para levantar, não tô bom. Dizendo essa frase o interrompi e logo disse que eu o ajudava se quisesse, mas ele acenou com a mão que não precisava. Questionei o que ele estava sentindo.
-Comendo bem “ieu” tô, tô muito cansado, hoje eu dormi demais, se eu deitar agora eu durmo de novo, é o fim da vida, estou cansado, estou cansando, tá difícil, tô chegando no meu final. Ao dizer esta ultima frase ele levantou os óculos com os dedos e cerrou o canto dos olhos com o indicador limpando a lagrima que escorria.
Vô Salvador e minha Vó
Essa cena me derrubou, não havias palavras para aquele momento, apenas sorri olhei para ele, que continuava fazendo todos aqueles movimentos minuciosos. Fiquei em silencio, saí dali e fui buscar água, pois qualquer conversa boba eu desmoronaria no choro. Durante esse episodio todo que havia acontecido minha avó estava na cozinha, voltamos, ele havia levantado caminhado vagarosamente até o portão e preparava para se sentar de novo. Logo minha avó foi para dentro de novo buscar um creme, passa nele todas as tardes (não consegui tirar a foto), aquela cena me emocionou ainda mais, o carinho era tão vivo ali, que reluzia uma luz dos dois. Imagina a cena, ele sentado com os óculos no colo olhando para cima com o olhos fechados, e ela em pé ao lado dele passando o creme com as pontas dos dedos e espalhando de forma grosseira, mas preocupada em deixar tudo hidratado.

Essa postagem não tem a ver com minha doença, é que às vezes reclamo tanto de fraqueza nas pernas, fadiga excessiva e ao ver meu avô deixei de pensar tanto em mim, foquei um pouco nele.
HOJE JÁ PAROU DE PENSAR EM VOCÊ MESMO E OLHOU PARA AS LIMITAÇÕES DAQUELES QUE SEMPRE SE PERMANECEM EM SILÊNCIO? NÃO ESTOU DIZENDO NAMORADA (OS) OU COLEGAS, ESTOU ME REFERINDO AS ESPOSAS, AOS MARIDOS, AOS VERDADEIROS AMIGOS, AO PAI A MÃE, AOS AVÓS, AOS IRMÃOS...



Um tem que voar sozinho e o outro apenas esperar
“O fim de uma vida onde um dia começaram várias, logo deixará de respirar entre nós e merecerá o descanso eterno. Assim será com todos nós, principalmente comigo se Deus quiser”.






Obrigado mais uma vez por sua atenção, boa noite.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Vamos falar sobre o amor e sobre o sexo?



Semana passada assisti pela segunda vez o filme Amor e outras drogas, o que me motivou muito para fazer este poste. Nós portadores de EM sabemos o quanto complicado é tratar de assuntos relacionado ao amor (o amor por si só já complicado, para um esclerosado então nem se fala! Pelo menos no meu caso).


Ainda não consigo expressar o quão complicado é se relacionar com alguém cujas minhas limitações são uma das características que infelizmente fazem parte de mim.





O que é ser doente pra você?
Já ensaiei tanto essa resposta, às vezes é até mecânico conversar com alguém sobre isso. Costumo dizer que pessoas doentes são as que fazem mal aos outros, são aquelas que tiram proveito de determinadas situações em que o irmão esta vulnerável, egoísmo, olho gordo, inveja...

Agora outra pergunta, o amor existe?
Existem tantas formas de amar, tantos amores, tantas pessoas. Acredito muito no amor familiar no qual cresci, mas ainda não é sobre esse amor que quero falar. Tenho uma dificuldade imensa de me entregar para alguém por completo, creio que a EM é um dos fatores para que isso aconteça. (Ou a única, ou sou eu). Por inúmeras vezes me senti na mesma situação que a personagem (do filme) com Parkinson se encontra. Pode ser vaidade minha, mas é tão complicado exigir de alguém privações das quais eu não gostaria de passar, prefiro não entregar esse fardo a ninguém, prefiro não ser um fardo, preciso primeiro de tudo cuidar de mim, quando tiver a certeza que estou apto a me doar estarei com certeza disposto e receber o amor de alguém.

Você deve estar se perguntando e o sexo entra onde em tudo isso? Desde que descobri a EM graças a Deus não tive problemas com isso! Claro existem algumas limitações, posições do tipo canguru perneta não são mais possíveis, manter certo ritmo também, mas da pra compensar em outras coisas. Ou seja, o sexo não é tão complicado como o amor!

Estou postando o final do filme, então se sua intenção é assisti-lo não veja o vídeo. Não quero estragar sua comoção. Obrigado mais uma vez pela atenção, meu e-mail para contato é netocruz@live.ca. Tenham uma boa noite.

Não encontrei a cena final legendada, então estou postando a dublada mesmo: